quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Nas agruras da vida.
Nas agruras da vida,tudo pode nos ter tirado mas o patrimônio da educação,nos ilumina e inspira.
Minha existência no “Julinho”,no início deste século, num recomeço marcante,é um livro que estou escrevendo através das diferenças,das dificuldades, das conquistas, dos erros,das provas, das pessoas e situações que me buscam para a conquista ou para todas as ocasiões.
Sempre é tempo de recomeçar! Faço de minha profissão um motivo para viver.
Chegando aqui,no início do século,encontro Ana Julieta, ela é vice-diretora da tarde e qual “Ana Terra” leva com “punho de ferro” e uma certa brandura este povo juliano.Joãozinho, nome no diminutivo e um grande coração,como vice da noite , amigo de todos, entende cada caso,compartilha com o clima do noturno.Hoje,continua sendo o nosso diretor,o segundo diretor deste início de século.Marly, a primeira ,grande figura,enérgica, exemplar.Fica no coração de todos.
Depois de mais de 25 anos em sala de aula,leciono adolescentes julianos,muitos,ainda crianças,totalmente indisciplinados mas que amo.Afeiçoei-me a eles num “amor correspondido”.Durmo e sonho com estes educandos.Acho falta deles quando adoeço e não posso vir às aulas.
Quando chego cansada,triste,vejo os alunos alegres,vibrando,cheios de “chama viva”;então esqueço tudo.
Minha visão embaça,freia,mas vejo além dos olhos.Recomeço sozinha,vou em frente.Eles me passam força,vitalidade, é transfusão de sangue novo nas veias.Eu me eternizo através deles,gravando a história de minha passagem através de cada resposta,cada gesto, cada manifestação de ponto de vista.
Existe uma energia muito forte pairando nos corredores,salas de aula e pátio desta escola, a mesma dos leões...
Emociono-me vendo a banda dos guris e gurias,tocar na praça,explodindo em coisas e emoções.Vale a pena estar lecionando no Julinho em plena sexta-feira para ver a banda passar,cantando coisas de amor....
Júlio de Castilhos,célebre escola de meu pai na metade do século passado;ele vindo de Alegrete,hospedando-se numa pensão do antigo bairro “Glória” e indo de bonde ou a pé para a majestosa escola de outrora.Tantas estórias do gauchito...
Tempos dificeis,ditadura militar,anos 60,contrastando-se com os descomprometidos e libérrimos tempos atuais.Hoje,segue autônomo,desafiador,com suas tribos,respeito às diferenças e,apesar dos conflitos deste novo século,lutando a favor da inclusão.
Problemas? Qual escola não os tem neste século conturbado,com valores ultrapassados,buscando a liberdade perdida por gerações, com uma juventude de tão baixa auto-estima.
Violência? Violenta é toda esta geração.Porém,as pombas que sobrevoam os leões,fazem-nos pensar no futuro ,sem violência,de muita paz e dignidade.
Salário? Apesar de ganharmos muito pouco,comparado à importância de nosso trabalho,nossa profissão é um motivo para viver.
Bendita essa missão.Temos nas mãos o mais precioso “presente”,seres humanos maravilhosos que nos chamam de muitas formas.”Só passamos por essa vida uma vez.”Damos “graças”à vida pulsando aos desafios...É algo impagável!
Várias são as atribuições do professor,desde ministrar a idéia conteudística até inteirar-se com problemas típicos do adolescente ou jovem adulto.Haverá criatividade para sobreviver a tantos problemas?
Escreve-se um pouco do livro da vida com estes educandos , durante inesquecíveis meses,nos quais aprende-se as mais diversas lições de vida, convertendo-se em poema.
Se fosse possível,numa outra vida escolher uma outra profissão,pediria somente,desta segunda vez, a missão de ser simplesmente uma professora.

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